Teletrabalho e a compreensão dos estados emocionais

As organizações buscam meios para garantir aos seus colaboradores o acesso às tecnologias para o teletrabalho. E enfrentam o enorme desafio de ajudá-los a reduzir o estresse e manter o foco e a produtividade.

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Acadêmicos e pesquisadores têm investigado os sentimentos vividos por teletrabalhadores no atual contexto de distanciamento social. Uma das descobertas aponta que essa experiência pode levar a “emoções mais negativas, como solidão, irritabilidade, preocupação e culpa”. Foi o que mostrou o estudo The opportunities and challenges of research on nonstandard employmen.

Esses sentimentos negativos, naturalmente, podem dificultar o foco no trabalho e impactar a produtividade. Se adicionarmos um estresse crescente gerado pela pandemia do novo coronavírus, teremos aí um enorme desafio. Com quais práticas, então, é possível acolher os teletrabalhadores hoje?

Pesquisando sobre significado e propósito no trabalho, encontramos uma ferramenta interessante para enfrentar esse desafio, algo que pode amenizar o estresse e manter o engajamento no teletrabalho: o treinamento entre pares.

Diferente do desenvolvimento de habilidades, o treinamento entre pares, ou treinamento entre colegas, propõe aos colaboradores o compartilhamento entre si sobre seus desafios, tensões, medos e esperanças.

Eles têm o mesmo tempo para escutar e falar, apoiando-se e procurando compreender as vulnerabilidades uns dos outros. O objetivo não é somente encontrar soluções para os problemas, mas exercitar a empatia, ajudando um ao outro a encontrar suas próprias soluções através da escuta e do apoio mútuo.

O treinamento entre pares também é diferente da orientação, que é, em sua essência, apenas transferência de conhecimento. A proposta do treinamento é mais ampla. Duas pessoas se ajudam e podem validar e ativar o conhecimento sobre si mesmas, o que as auxilia a lidar melhor com o trabalho e a vida familiar em época de distanciamento social.

Como os dois participantes estão na mesma organização, eles enfrentam alguns dos mesmos desafios e mesmas tensões, fazendo com que estabeleçam um tipo de “camaradagem” útil para aliviar o estresse.

Uma pesquisa com colaboradores nos EUA descobriu que o treinamento também ajuda a criar um melhor ambiente de trabalho no longo prazo.

Pessoas envolvidas regularmente no treinamento entre pares têm 65% mais chances de se sentirem satisfeitas no trabalho e 67% mais chances de se declarar como uma das melhores da organização. Elas também são 73% mais propensas a relatar a sensação de pertencimento e 50% mais propensas a permanecer em seus empregos por mais de cinco anos.

A seguir, listamos algumas etapas do treinamento entre pares.

#1 Incentivar e planejar

Os gestores incentivam o treinamento e planejam as atividades. Já os participantes devem tanto ter uma compreensão clara sobre como administrar o tempo como saber que cada um falará e ouvirá igualmente.

O treinamento começa com a apresentação da proposta pelos gestores e o convite a colegas voluntários. Pode ser criada uma lista de voluntários e convidado qualquer interessado para entrar em contato com colegas da lista e agendar um horário para conversar.

Para que o treinamento seja bem-sucedido, é importante que os dois participantes se sintam em pé de igualdade. E para evitar a dinâmica de poder do relacionamento entre gestores e colaboradores, o ideal é formar duplas que não se reportam dentro de uma hierarquia.

#2 Estimular a positividade

Os gestores podem incentivar os participantes a iniciar as conversas com positividade, perguntando um ao outro algo como: “O que o trabalho em casa ajudou a entender sobre seu trabalho ou sua vida?” ou “O que você achou inspirador ou desafiador na adaptação ao novo formato de trabalho?”

Apesar de isso poder ser especialmente impactante em meio à turbulência atual, faz com que as pessoas fortaleçam o propósito em seus trabalhos.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, enfatizar o objetivo no trabalho é a chave para ajudar a reduzir o estresse. “Nosso bem-estar está diretamente conectado à nossa sensação de realização, à qualidade de nossos relacionamentos, nosso senso de importância ao causar impacto e ao desafio do crescimento”, explica Dr. Britt Andreatta.

#3 Praticar

Os gestores devem dar o exemplo, reservando tempo para o treinamento entre pares em seus horários e informando suas equipes sobre isso.

Líderes e gestores geralmente enfrentam desafios complexos. O treinamento pode fornecer um apoio que talvez não seja possível de outras formas.

O Íris acredita que experimentar novas formas de se relacionar no trabalho faz parte da Cultura de Inovação.

Uma das bases de atuação desse eixo é o Growth Mindset, conceito que pressupõe que você não detém todo o conhecimento necessário antes de iniciar uma nova atividade, mas você é totalmente capaz de (a) buscar novos conhecimentos, (b) aplicá-lo e testá-lo, c) avaliar os resultados e, se for o caso, (d) incorporar essa nova prática à sua rotina de trabalho.

Vamos experimentar entre colegas?

Referências

The Opportunities and Challenges of Research on Nonstandard Employmen
http://webuser.bus.umich.edu/sja/pdf/OldAssumptions.pdf

World Heath Organization. 2004. Work Organization & Stress https://www.who.int/occupational_health/publications/pwh3rev.pdf

Organização Mundial da Saúde. 2010. Ambientes de trabalho saudáveis: Um modelo para ação https://www.who.int/occupational_health/ambientes_de_trabalho.pdf

Organização das Nações Unidas
https://news.un.org/pt/story/2020/03/1707792
https://news.un.org/en/story/2020/03/1059542

University of Southern California Marshall School of Business https://www.marshall.usc.edu/faculty-research/recent-publications

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